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Dez Discos que Corromperam Minha Alma

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Recentemente, navegando pelo mundinho podre, sujo e viciante do Facebook, me deparei com uma mania de alguns amigos fanáticos por música. A brincadeira consiste em fazer um Top 10 de álbuns que marcaram a sua vida por algum motivo.

A maioria, claro, era tão tarada por música que fizeram listas que extrapolaram 10 títulos. Um outro vez uma dezena de rankings, outro fez vários Top 10 separados por estilo. Enfim, para nós que amamos e colecionamos música, fica difícil escolher só 10 discos. É como uma mãe escolher um filho predileto.

Mas decidi fazer um exercício mental e escolher 10 discos que tenham sido relevantes na minha vida por algum motivo. Foi difícil, claro. Montei então uma listinha de 10 discos que marcaram minha existência. Não estão ordenados por importância, nem por data de lançamento. Tentei dar uma sequência lógica tendo como referência a idade com que escutei/adquiri o disco, explicando o motivo do mesmo ter um espaço especial no meu coração musical. Os anos destacados entre parênteses fazem referência a quando os discos foram lançados. Para cada disco, destaco também uma faixa para ilustrar musicalmente este texto. Vamos lá:

green-day-dookie-jpgGreen Day – Dookie (1994)

Primeiro disco de punkrock que tive contato. Na verdade era uma fita K7 do meu irmão. Era 1996, eu então com 11 anos de idade pegava a fitinha escondido para ouvir. Decidi fazer uma cópia, que rodou milhões de vezes no meu rádio. Tenho a fita até hoje, e a guardo com muito cuidado. Somente há alguns anos que achei o CD numa promoção de usados e o adquiri. Velocidade, melodias pegajosas e a energia inconfundível do punkrock noventista norte-americano. O que mais um moleque precisa para se apaixonar por rock?

 

 

raimundosRaimundos (1994)

Por volta de 1997 comecei a ter contato com outras bandas de rock, e o que já rolava pelas rádios e walkmans da galera incluía uma certa banda chamada Raimundos. O primeiro disco deles que ouvi foi, na verdade, “Lavô Tá Novo”, que é o segundo álbum. Mas o primeiro CD original que comprei foi o disco de estreia dos caras, de 1994. A capinha marrom é mítica, e levar um CD dos Raimundos para casa era quase como comprar uma revista pornô! Tinha emoção naquilo. São 16 faixas de peso e velocidade, uma gravação meio suja, com o baixão estalando nos ouvidos. Coisa linda. Quem não foi feliz ouvindo o Raimundos clássico?

 

Ramones - 1996 - Greatest Hits Live(Capa)Ramones – Greatest Hits Live (1996)

A maneira como conheci os Ramones também é engraçada. Já fã de Raimundos, mas ainda bem moleque, sempre lia, escutava ou assistia entrevista dos caras dizendo que a maior influência deles eram os Ramones. Decidi então ir atrás e conhecer a tal banda que eles tanto falavam. Foi como sair da pré-escola e se juntar aos garotos mais velhos da escola. Achei esse CD numa loja de departamentos. Na verdade trata-se de um disco ao vivo, gravado em Nova Iorque, e lançado por um selo brasileiro como se fosse uma coletânea. A primeira audição foi chocante. Ramones ao vivo não é para principiantes. Creio ter “não-gostado” do CD durante todo o primeiro mês que tentei ouvi-lo. Mas logo a viadagem juvenil passou e eu estava pirando no “one, two, three, four” e na velocidade alucinante dos caras executando os clássicos ramonianos. Ainda hoje escuto esse disco quando me sinto entediado. Sempre funciona.
 

 

INOCENTES - garotos de subúrbioInocentes – Garotos do Subúrbio (1999)

Já familiarizado com a sonoridade punk, era hora de me embrenhar nas letras de protesto. Lembro de ter escutado os Inocentes num programa da extinta rádio Brasil 2000, de São Paulo. Fui até a loja especializada em rock da minha cidade, Beco do Disco – que existe até hoje (alô André Ferrarezi, merchandising grátis aqui). Lá encontrei uns três títulos da banda, simpatizei com a capa, vermelha e preta, com os desenhos, e tinha várias faixas. Arrisquei, na pior das hipóteses, ao menos alguns sons seriam legais. Certeiro, conheci e passei a admirar a banda que julgo ser uma das melhores do país, e que tem no vocalista Clemente o melhor letrista do punk brazuca. Depois desse CD, o punk brasileiro passou a ter um espaço especial nos meus arquivos musicais. “Rotina”, “Ele disse não”, “Pânico em SP”, “Liberdade condicional”, “Expresso oriente” e “Garotos do Subúrbio” são hinos.

rock-de-suburbio-liveGarotos Podres – Rock de Subúrbio (1995)

Nem imagino como fiquei sabendo que existia algo tão toscamente genial como os Garotos Podres. Só sei que um dia fui até a mesma loja já citada aqui com o intuito de comprar algo deles. Perguntei à vendedora qual era o mais legal. Ela disse: “todos são bons”. Pensei: “porra, impossível isso, ela não manja e tá querendo me empurrar qualquer merda”. Erro meu. Viria a constatar no futuro que todos os discos da banda são realmente bons. Minha estreia foi ouvindo este que é o primeiro registro ao vivo dos Garotos Podres ao vivo. Gravado num bar em Mauá(SP), cidade natal do grupo, o registro é visceral. Reunindo os petardos dos três primeiros álbuns, o show é encardido, pesado, intimista, violento e divertido. Foi tiro e queda, e os Garotos Podres entraram na minha vida para nunca mais sair. Infelizmente a banda acabou, e o vocalista Mao está movendo uma ação judicial contra os ex-integrantes Sukata (baixo) e Capitão Caverna (bateria) por estarem usando indevidamente o nome do grupo, inclusive tentando agendar alguns shows e gravando músicas novas com outro vocalista. Prometo em breve escrever sobre o caso, trazendo inclusive as palavras do próprio Mao a respeito do triste fim do Garotos Podres.

 

aberraçõesZumbis do Espaço – Aberrações que Somos (2002)

A primeira vez que tive contato com os Zumbis do Espaço, clássica banda de punk-horror brasileira, foi por uma capa de um caderno de um amigo no colégio. Lá estava colado um velho adesivo, com o logotipo da caveira usando cartola, que era parte da identidade visual do grupo nos primeiros anos. Perguntei do que se tratava, ele resumiu: “é uma banda de punkrock, letras sobre terror. O vocalista é de Taubaté”. Acho que o regionalismo falou alto, e por ser da mesma cidade de um dos caras da banda fui atrás. Curti logo de cara, e anos depois eles lançaram este que considero ser um dos melhores discos da carreira deles. “Aberrações que Somos” foi o CD que colocou os Zumbis do Espaço num posto diferenciado do rock independente nacional. Musicalmente o disco é poderoso, recheado de sons que se tornariam hits, executados até hoje nas apresentações ao vivo e cantados em coro pelos fãs. “A marca dos 3 noves invertidos” é, para mim, a melhor música de toda a carreira dos Zumbis. O disco foi tão aclamado que tornou-se item esgotado no fim dos anos 2000. Sabiamente, a banda o relançou em versão digipack, com algumas faixas extras, e posteriormente lançou edição limitada em vinil colorido. Tenho todas as versões, e escuto periodicamente esse clássico dos infernos.

 

Ska BrasilSkabrasil – Skarnaval (1997)

Hoje sou fã de Ska. Esse ritmo meio incompreendido, muito pop para ser underground, e ao mesmo tempo muito alternativo para ser pop, me conquistou. A forma como passei a escutar Ska foi também estranha, e novamente teve participação direta da banda Raimundos. Escutando o primeiro disco dos caras, uma frase na música “Marujo” me chamou a atenção: “Aprende a mexer no leme e as batatas descascar / Ele tem um headphone onde só toca Ska”. Como eu já conhecia o termo, resolvi buscar alguma coisa para escutar. Lembrei então que meu irmão André, o mesmo da fita K7 do Green Day, havia comprado há alguns anos atrás a coletânea “Skabrasil”, lançada em 1997 pela Paradoxx. Lá estavam as bandas Skuba, Boi-Mamão, Manuels, Mr. Rude e Skamoondongos. Audições seguidas no meu quarto foram fazendo com que passasse a entender o que era o Ska. Foi um ponto de partida importante, pois por meio de referências tiradas de algumas letras contidas nessa coletânea, conheci o Ska original jamaicano, com artistas como Desmond Dekker, Maytals, Skatalites, dentre outros.

 

ElvisElvis Presley – The Best Of Elvis – Good Rockin’ Tonight (1989)

De uma só vez fui cooptado por Elvis Presley e pelo Rockabilly. Tudo começou quando escutei alguns sons de rockabilly numa coletânea qualquer. Minha irmã havia me presenteado com um toca-discos e com alguns discos de sua coleção. Lá no meio estava esta coletânea dupla, lançada no Brasil em 1989. Entre as músicas mais primitivas do Elvis, há rockabilly, e por isso passei a escutá-lo com freqüência. Com o tempo, até mesmo as baladas românticas do Rei me agradavam. Passei a ser bem fã de Elvis Presley, e a coleção de vinis dele já passa dos 30 títulos. Elvis é indispensável, foi um radical, um punk de sua época, e apesar do fim trágico e melancólico, foi um dos maiores personagens do século XX. E esse disco mudou a minha vida.

motorhead+ace+of+spadesMotorhead – Ace Of Spades (1980)

O que falar do Motorhead? Difícil. Banda ícone do rock’n’roll que consegue fazer um som que mistura punk e metal, agradando a todo tipo de maluco fã de um bom barulho. Não sei exatamente quando comecei a colecionar discos do Motorhead, mas “Ace Of Spades” foi o segundo vinil dos caras que eu comprei. Era meados dos anos 2000, o mercado de discos usados ainda estava em baixa, pois a moda do retorno do vinil ainda não tinha embalado como agora. Lembro de ter pagado uns R$ 15,00 no discão, original da época, em ótimo estado de conservação. Cheguei em casa, botei pra rodar e não teve como não balançar a cabeça ao som de “Ace Of Spades”, a faixa título desse que é um dos álbuns essenciais para se curtir e entender o rock. Como não pagar um pau para a capa com os caras vestidos de pistoleiros, como se fossem vilões de um western de qualidade duvidosa? Sem Lemmy Kilmister e o Motorhead, as coisas provavelmente não seriam as mesmas.

 

Reign_in_blood_-_slayer_-_1986Slayer – Raining Blood (1986)

Para encerrar, deixo o último disco que fez algum efeito de mudança na minha vida. Dá até vergonha de expor isso aqui, mas só fui escutar Slayer depois de “velho”. Nunca havia dado muita atenção pra banda, apesar de conhecê-la desde 1998. Por anos fui meio que um militante do punkrock, e deixei que o preconceito besta de moleque me afastasse do metal. Depois de assistí-los no Rock In Rio 2013 me senti um bosta por não ter nenhum disco dos caras. Fui até a loja e joguei na segurança. Comprei “Raining Blood”, não à toa um dos discos mais cultuados do metal. Slayer é uma banda do capeta, faz música do mal e serve para exorcizar os fantasmas da alma. Prova desse poder foi ter causado algum tipo de mudança na minha vida, mesmo depois de anos e mais anos comprando e ouvindo rock. Se mudou para melhor ou para pior, não sei, só sei que tenho ouvido Slayer quase todo dia.

 

 

 

 


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