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A Crise Hídrica em São Paulo: Problema Climático ou de Gestão?

Por Prof. Gerson de Freitas Junior

Nos últimos meses o Estado de São Paulo e também o Vale do Paraíba têm passado por uma extrema crise de disponibilidade hídrica. Contudo, por motivos eleitoreiros, os gestores em diversas instâncias de governo, aliados à Grande Mídia, tem buscado ocultar a gravidade da situação.

Além desse fato, que já revela enorme irresponsabilidade e falta de ética, para não escrever palavras mais severas, ainda se levanta outro mais irresponsável, imediatista, autoritário, eleitoreiro e sem o menor embasamento técnico-científico e cultural. O Governo do Estado pretende transpor águas da Bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul para abastecer toda a Região Metropolitana da Grande São Paulo.

Área da represa no reservatório do rio JacareiEntretanto, o Rio Paraíba do Sul é um rio federal e é a principal fonte de água do Estado do Rio de Janeiro. Caso São Paulo use a água do Rio Paraíba, afetará também a região valeparaibana e o Rio de Janeiro. Nesse “cabo de guerra” entre as maiores cidades do país, o Vale do Paraíba precisa se manter forte e não ceder, pois é aquele que sofrerá mais profundamente com os impactos negativos de uma irresponsável transposição.

Os prefeitos, vereadores e deputados do Vale do Paraíba têm o dever moral de se posicionar contra a transposição. E a população deve se manifestar para que seus direitos não sejam violados. Populações periféricas e de baixa renda, assim como municípios de pequeno porte, como Redenção da Serra, Paraibuna, Natividade da Serra, serão os mais afetados. Passarão à condição de “cidades fantasma” com a “diáspora hídrica” que os atingirá! No passado, sofreram com a construção das represas, fato que marcou profundamente a população ainda não remediada. No futuro próximo, podem ser intensamente atingidas pela falta de água! Os gestores precisam lembrar que toda a população será afetada (incluindo pescadores, agricultores e outros).

Represa de Redenção da Serra (SP) é uma das atingidas pela crise hídrica que assola o estado (Foto: Sullivan Morais Santos Santos)

Represa de Redenção da Serra (SP) é uma das atingidas pela crise hídrica que assola o estado (Foto: Sullivan Morais Santos Santos)

Mas, afinal, o problema é climático ou de gestão? Resposta: os dois. Contudo, a questão climática foi prevista e os governantes foram avisados há anos sobre o fato de que períodos de seca são recorrentes. É só lembrarmos da última grande crise, ocorrida há pouco mais de 10 anos. Contudo, os governantes nada fizeram para resguardar São Paulo de novas crises. A demanda continua aumentando, as pessoas continuam desperdiçando, as instituições públicas desperdiçando mais ainda e o governo continua levando a situação para frente.

avisofolhaSão quase 40% de desperdício no sistema de distribuição! Isso é inaceitável! Mas a lamentável justificativa governamental é a seguinte: continuemos a desperdiçar quase metade da água distribuída, deixemos de investir em reflorestamentos e recuperação de áreas degradadas e ainda por cima, usemos a água da Bacia do Rio Paraíba do Sul para atender a crescente demanda da Grande São Paulo.

Mas, por que isso não deve ser feito? Seguem algumas das principais respostas:

– A Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul é prioritária para recuperação ambiental e não para abastecer São Paulo. Todos os estudos técnicos realizados até hoje nem chegam a citar a transposição para abastecimento como algo a ser considerado. Todos os estudos convergem para o objetivo de recuperação ecológica e hidrológica da Bacia do Paraíba do Sul.

– Há outras alternativas para abastecer São Paulo e para diminuir o desperdício. Usar a água do Vale do Paraíba é a mais rápida, mas não é a mais adequada. Deve-se investir em diminuição de perdas, uso de água nobre e não nobre, coleta de água de telhados, etc.

– Sendo uma bacia federal, São Paulo não pode tomar uma decisão arbitrária e baseada apenas em seus interesses. O Rio de Janeiro e Minas Gerais, além de todo o Vale do Paraíba também serão afetados!

– Quando não chove em São Paulo, também não chove no Vale do Paraíba. Então, os sistemas não serão complementares. Faltando água em São Paulo, também faltará água no Vale do Paraíba. Então, não há como o Vale atender São Paulo sem ser prejudicado.

– Além disso, a água do Vale do Paraíba precisa atender o crescimento da própria região. A Região de Piracicaba fez um acordo com São Paulo e cedeu 70% de suas águas para a Grande São Paulo. O que aconteceu? São Paulo não cumpriu qualquer um dos acordos de compensação com a Região de Piracicaba. Agora, com a falta de água nessa região, os municípios não podem ter a instalação de qualquer empreendimento ou fábrica para crescerem. Isso significa que abastecer São Paulo causará crise, falta de empregos, saída de empresas do Vale, crise na agropecuária regional, crise no turismo, deterioração da qualidade da água devido à menor quantidade de água para diluir esgotos, entre outros muitos problemas.

– Nos próximos 20 anos, entraremos em um período de diminuição das temperaturas e das chuvas. Mas o governo não está pensado em 20 anos de investimentos e gestão responsável. Está pensando em outubro, nas próximas eleições.

thomateDe fato, PLANEJAR não é aquilo que os responsáveis pela má gestão dos Recursos Hídricos em São Paulo sabem fazer. Foram avisados há muito tempo, mas prefeririam fingir que nada ia acontecer e “confiar em São Pedro!”. Por mais absurdo que possa parecer, o mais importante Estado do Brasil, com PIB maior do que muitos países, está nas mãos de “São Pedro!”.

Todo o Vale do Paraíba deve dizer sim à recuperação e não à transposição e má gestão!

Prof. MSc. Gerson de Freitas Junior é Geógrafo filiado à Associação Brasileira de Recursos Hídricos – ABRH, ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia –CREA e ao Instituto de Estudos Valeparaibanos – IEV.
CREA 5062900858 

– Universidade de Taubaté – UNITAU e Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo – FATEC
– Professor Colaborador da Faculdade de Roseira – FARO e do Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL.


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